Our Kingdom School
Publicado em
18 de setembro de 2024
18 de setembro de 2024
Saúde Mental
Our Kingdom School
Saúde Mental
Há uma quietude nos corredores das casas quando os filhos finalmente dormem. No silêncio, as mães se permitem ouvir o eco dos próprios pensamentos, que tantas vezes gritam, mas são abafados pela rotina incansável do cuidado com o outro. E ali, no meio das lembranças do dia — as risadas, as birras, as fraldas trocadas, as histórias lidas à noite — há também o cansaço. Um cansaço que não é só físico, mas emocional. E no mês de setembro, quando o mundo volta seus olhos para a prevenção do suicídio, eu fico pensando: quantas mães estão silenciosamente exaustas, carregando mais do que conseguem, mas sem saber como pedir ajuda?
Ser mãe é, sem dúvida, uma jornada de entrega.
O chamado de Deus para amar, servir e se doar pelos filhos é um reflexo do amor sacrificial de Cristo. Mas, às vezes, na intensidade desse serviço, as mães se esquecem de uma verdade simples: elas também precisam ser cuidadas. Não para que se tornem o centro de suas vidas, mas para que possam continuar servindo com alegria, força e saúde. Porque, na missão da maternidade, é necessário estar fortalecida para cumprir o chamado que Deus colocou em suas mãos.
Me lembro de uma mãe que, em meio a lágrimas contidas, admitiu que se sentia à beira do colapso. Ela era refém da culpa por sentir cansaço e tristeza, e em meio a esse silêncio sofrido, percebi o quão comum isso é. Muitos não sabem, mas o período pós-parto pode ser a porta de entrada para um dos desafios emocionais mais profundos que uma mãe pode enfrentar: a depressão pós-parto. Entre as noites mal dormidas e o constante cuidar, a tristeza profunda e o sentimento de inadequação podem crescer sem serem notados. E para muitas, a vergonha de sentir essa tristeza num momento que deveria ser de pura alegria é o que as impede de buscar ajuda.
Outras mães se veem sufocadas pela ansiedade. O medo constante de que algo ruim possa acontecer com seus filhos, a sensação de que nunca estão fazendo o suficiente, ou a pressão de equilibrar tudo — trabalho, casa, maternidade — faz com que vivam em constante alerta. Esse tipo de ansiedade materna pode corroer a paz, transformando momentos de descanso em horas de preocupação e medo.
E, por fim, há aquelas que enfrentam o burnout materno, o esgotamento completo. Isso vai além do cansaço do dia a dia. É como se, no processo de se doar tanto, a mãe chegasse a um ponto em que não resta mais energia. Ela está ali fisicamente, mas emocionalmente, se sente desconectada, incapaz de continuar a cumprir seu papel com o coração cheio.
Então, o que uma mãe pode fazer diante dessas tempestades emocionais?
Primeiramente, é importante lembrar que buscar ajuda não é fraqueza, mas sim uma demonstração de sabedoria e coragem. Existem passos práticos e espirituais que podem ajudá-las a trilhar esse caminho de volta à saúde emocional.
Procure Aconselhamento: Conversar com um conselheiro bíblico ou um psicólogo pode ajudar a trazer à luz os sentimentos de tristeza, ansiedade ou exaustão. Às vezes, verbalizar o que está guardado no coração já é um passo significativo para a cura.
Participe de uma Comunidade de Apoio: Muitas igrejas e grupos cristãos oferecem espaços de acolhimento para mães. Ter um lugar onde possa compartilhar os desafios, sem medo de julgamento, é essencial para que as mães não se sintam sozinhas. Somos chamados para carregar os fardos uns dos outros (Gálatas 6:2), e essa comunhão pode ser um bálsamo.
Desenvolva uma Rotina de Autocuidado com Propósito: Esse cuidado não se trata de indulgência ou de colocar-se no centro, mas sim de cuidar da saúde para poder continuar servindo. O autocuidado pode incluir pausas para descanso, momentos de oração, tempo de leitura da Palavra, e até práticas simples, como uma caminhada ao ar livre. A ideia é se conectar novamente consigo mesma e com Deus.
Avalie a Possibilidade de Intervenção Médica: Em alguns casos, o acompanhamento psiquiátrico e o uso de medicação podem ser necessários, principalmente quando o quadro de depressão, ansiedade ou burnout está afetando gravemente a capacidade de uma mãe cuidar de si mesma e de sua família. E isso não deve ser visto como uma derrota, mas como uma provisão de Deus, que nos dá recursos para nossa cura.
Encontre Momentos de Renovação Espiritual: A oração e a meditação na Palavra são fontes inestimáveis de renovação. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Quando a alma está em silêncio diante de Deus, encontramos a força para continuar a missão.
O Evangelho nos ensina a nos doarmos, mas também nos mostra que, para servir bem, é preciso estar bem.
Uma mãe cansada, que não encontra espaço para renovar suas forças, pode acabar se esgotando. E não é egoísmo reconhecer isso. Na verdade, é uma forma de se preparar para continuar a missão que Deus lhe deu: criar, amar, educar e servir, como Cristo fez por nós.
Em setembro, o mês que nos lembra da importância da saúde mental, precisamos reforçar a ideia de que pedir ajuda não é sinal de fracasso. Precisamos criar espaços onde as mães possam falar de seus fardos sem medo de serem julgadas. Porque cuidar de si, nesse contexto, é um ato de humildade. É reconhecer que, sozinhas, não podemos carregar tudo, mas que, com o auxílio de Deus e com o apoio daqueles que nos cercam, podemos continuar a missão de sermos mães, não perfeitas, mas fiéis ao que Ele nos chamou a fazer.
Então, mãe, se hoje você se sente cansada, sobrecarregada, saiba que não está sozinha. Você foi chamada para servir e se doar, mas Deus também cuida de você. Ele te sustenta, te renova e te chama para encontrar descanso Nele. Permita-se esse cuidado, não para se colocar em primeiro lugar, mas para continuar a missão que o Senhor te confiou — uma missão de amor, serviço e vida.
Mirella Ferraz - cristã, psicóloga, casada com Renato Ferraz, mãe de 3 meninos: Estevão, Benjamin e João. Apaixonada por livros, café e uma boa prosa, como toda boa mineira.