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Cuidar de Si é Cuidar do Outro: a importância da saúde mental materna.

Cuidar de Si é Cuidar do Outro: a importância da saúde mental materna.

Há uma quietude nos corredores das casas quando os filhos finalmente dormem. No silêncio, as mães se permitem ouvir o eco dos próprios pensamentos, que tantas vezes gritam, mas são abafados pela rotina incansável do cuidado com o outro. E ali, no meio das lembranças do dia — as risadas, as birras, as fraldas trocadas, as histórias lidas à noite — há também o cansaço. Um cansaço que não é só físico, mas emocional. E no mês de setembro, quando o mundo volta seus olhos para a prevenção do suicídio, eu fico pensando: quantas mães estão silenciosamente exaustas, carregando mais do que conseguem, mas sem saber como pedir ajuda?

Ser mãe é, sem dúvida, uma jornada de entrega.

O chamado de Deus para amar, servir e se doar pelos filhos é um reflexo do amor sacrificial de Cristo. Mas, às vezes, na intensidade desse serviço, as mães se esquecem de uma verdade simples: elas também precisam ser cuidadas. Não para que se tornem o centro de suas vidas, mas para que possam continuar servindo com alegria, força e saúde. Porque, na missão da maternidade, é necessário estar fortalecida para cumprir o chamado que Deus colocou em suas mãos.

Me lembro de uma mãe que, em meio a lágrimas contidas, admitiu que se sentia à beira do colapso. Ela era refém da culpa por sentir cansaço e tristeza, e em meio a esse silêncio sofrido, percebi o quão comum isso é. Muitos não sabem, mas o período pós-parto pode ser a porta de entrada para um dos desafios emocionais mais profundos que uma mãe pode enfrentar: a depressão pós-parto. Entre as noites mal dormidas e o constante cuidar, a tristeza profunda e o sentimento de inadequação podem crescer sem serem notados. E para muitas, a vergonha de sentir essa tristeza num momento que deveria ser de pura alegria é o que as impede de buscar ajuda.

Outras mães se veem sufocadas pela ansiedade. O medo constante de que algo ruim possa acontecer com seus filhos, a sensação de que nunca estão fazendo o suficiente, ou a pressão de equilibrar tudo — trabalho, casa, maternidade — faz com que vivam em constante alerta. Esse tipo de ansiedade materna pode corroer a paz, transformando momentos de descanso em horas de preocupação e medo.

E, por fim, há aquelas que enfrentam o burnout materno, o esgotamento completo. Isso vai além do cansaço do dia a dia. É como se, no processo de se doar tanto, a mãe chegasse a um ponto em que não resta mais energia. Ela está ali fisicamente, mas emocionalmente, se sente desconectada, incapaz de continuar a cumprir seu papel com o coração cheio.

Então, o que uma mãe pode fazer diante dessas tempestades emocionais?

Primeiramente, é importante lembrar que buscar ajuda não é fraqueza, mas sim uma demonstração de sabedoria e coragem. Existem passos práticos e espirituais que podem ajudá-las a trilhar esse caminho de volta à saúde emocional.

  1. Procure Aconselhamento: Conversar com um conselheiro bíblico ou um psicólogo pode ajudar a trazer à luz os sentimentos de tristeza, ansiedade ou exaustão. Às vezes, verbalizar o que está guardado no coração já é um passo significativo para a cura.

  2. Participe de uma Comunidade de Apoio: Muitas igrejas e grupos cristãos oferecem espaços de acolhimento para mães. Ter um lugar onde possa compartilhar os desafios, sem medo de julgamento, é essencial para que as mães não se sintam sozinhas. Somos chamados para carregar os fardos uns dos outros (Gálatas 6:2), e essa comunhão pode ser um bálsamo.

  3. Desenvolva uma Rotina de Autocuidado com Propósito: Esse cuidado não se trata de indulgência ou de colocar-se no centro, mas sim de cuidar da saúde para poder continuar servindo. O autocuidado pode incluir pausas para descanso, momentos de oração, tempo de leitura da Palavra, e até práticas simples, como uma caminhada ao ar livre. A ideia é se conectar novamente consigo mesma e com Deus.

  4. Avalie a Possibilidade de Intervenção Médica: Em alguns casos, o acompanhamento psiquiátrico e o uso de medicação podem ser necessários, principalmente quando o quadro de depressão, ansiedade ou burnout está afetando gravemente a capacidade de uma mãe cuidar de si mesma e de sua família. E isso não deve ser visto como uma derrota, mas como uma provisão de Deus, que nos dá recursos para nossa cura.

  5. Encontre Momentos de Renovação Espiritual: A oração e a meditação na Palavra são fontes inestimáveis de renovação. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Quando a alma está em silêncio diante de Deus, encontramos a força para continuar a missão.

O Evangelho nos ensina a nos doarmos, mas também nos mostra que, para servir bem, é preciso estar bem.

Uma mãe cansada, que não encontra espaço para renovar suas forças, pode acabar se esgotando. E não é egoísmo reconhecer isso. Na verdade, é uma forma de se preparar para continuar a missão que Deus lhe deu: criar, amar, educar e servir, como Cristo fez por nós.

Em setembro, o mês que nos lembra da importância da saúde mental, precisamos reforçar a ideia de que pedir ajuda não é sinal de fracasso. Precisamos criar espaços onde as mães possam falar de seus fardos sem medo de serem julgadas. Porque cuidar de si, nesse contexto, é um ato de humildade. É reconhecer que, sozinhas, não podemos carregar tudo, mas que, com o auxílio de Deus e com o apoio daqueles que nos cercam, podemos continuar a missão de sermos mães, não perfeitas, mas fiéis ao que Ele nos chamou a fazer.

Então, mãe, se hoje você se sente cansada, sobrecarregada, saiba que não está sozinha. Você foi chamada para servir e se doar, mas Deus também cuida de você. Ele te sustenta, te renova e te chama para encontrar descanso Nele. Permita-se esse cuidado, não para se colocar em primeiro lugar, mas para continuar a missão que o Senhor te confiou — uma missão de amor, serviço e vida.

Mirella Ferraz - cristã, psicóloga, casada com Renato Ferraz, mãe de 3 meninos: Estevão, Benjamin e João. Apaixonada por livros, café e uma boa prosa, como toda boa mineira.

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