Falava ele ainda, e eis que chegou Judas, um dos doze, e, com ele, grande turba com espadas e porretes, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo. Ora, o traidor lhes tinha dado este sinal: Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o. E logo, aproximando-se de Jesus, lhe disse: Salve, Mestre! E o beijou. Jesus, porém, lhe disse: Amigo, para que vieste? Nisto, aproximando-se eles, deitaram as mãos em Jesus e o prenderam.  (Mateus 26:47-50).

Mateus é o Evangelho que claramente mostra que Jesus teve que ser crucificado, morto e ressuscitado por causa de seu amor a nós. Neste Evangelho conseguimos perceber que tudo o que Jesus fez foi não somente por nós, mas também em nosso lugar.

E quero neste artigo te levar a pensar em alguém muito relevante na história da Páscoa: Judas Iscariotes.

Primeiro, deixa eu te tirar aquela impressão errada que você pode ter de Judas. Se você acha que ele era uma pessoa meio sinistra, sorrateira, com cara de poucos amigos e com um olhar desonesto, você está errado. Judas não era assim. Ele era um apóstolo respeitado. A Bíblia nos mostra que ele que carregava a bolsa de moedas do ministério de Jesus. Quando alguém te confia o dinheiro de seu trabalho, é porque você confia e respeita muito essa pessoa

Judas não traiu Jesus porque ele era mau. Se pensarmos bem, todos os apóstolos traíram e abandonaram Jesus (Mateus 26.31). Acontece que Judas estava frustrado com as ações de Jesus. Jesus não fez o que Judas queria (acabar com a opressão romana e com a injustiça do mundo). Quando Jesus não fez a vontade de Judas, ou o que Judas achava que Ele deveria fazer, ele vendeu Jesus por 30 moedas de prata.

Não pense em Judas como alguém mau, com olhos maldosos, com um coração amargo. Pense em Judas como alguém que se decepcionou tanto com Jesus quando não teve seus planos atendidos que decidiu que não precisava mais ser fiel a ele. 

Mateus colocou a história de Judas em seu evangelho como um lembrete. Precisamos nos lembrar de que assim como Judas, corremos o risco de trair Jesus. E existem duas razões para isso. 

A primeira é que Judas teve um preço. Para Judas, se Jesus não fizesse o que parecia ser justo ao seu julgamento, para que então ele precisava de Jesus? Judas o abandona quando vê que Jesus não mais o serviria e o vende. A questão que fica para todos nós é: qual o seu preço? Talvez você nunca vai admitir que tem um preço, mas deixa então eu reformular essa pergunta: o que Jesus tem que fazer para que você seja leal a ele e nunca o abandone? Ou melhor, quais são as suas condições para seguir a Jesus? Conhecemos pessoas que pararam de seguir a Cristo porque Ele não fez algo que elas achavam que Ele deveria ter feito.

É realmente doloroso quando o emprego que você queria vai para outra pessoa, quando a doença não é curada, ou quando seu casamento chegou ao fim. E essas pessoas, assim como Judas, pensam que não vale mais a pena ser leal a Jesus. Afinal, Ele poderia ter atendido esses pedidos. 

Existem também aqueles tipos de pessoas que só seguem a Jesus quando é conveniente. Se não lhe custar muito, vale a pena seguir, elas pensam. Acontece que só veremos o quanto Jesus é importante para elas quando o seguir não for tão conveniente. 

O valor que você dá a algo ou alguém pode ser medido por aquilo que você desiste para obtê-lo. 

Seguir e obedecer a Jesus vai te exigir que você mude sua direção totalmente, que você abandone suas crenças, seus desejos egoístas. Todos gostamos de ouvir sobre ir até Jesus, encontrar paz, realização. E Ele pode nos dar tudo isso e muito mais. Mas, seguir a Jesus e tomar a sua cruz vai te custar muito. Talvez tudo. 

Pergunte-se se você está disposto a pagar o preço. Ou será que você vai negociar isso e dar somente suas manhãs de domingo a Ele, mas não seus sábados à noite. Você sabe que Deus quer que você passe mais tempo com sua família, mas isso vai te custar muito e você não está disposto a pagar. Aquele seu relacionamento te impede de obedecer os mandamentos de Jesus, mas você não está pronto para abandoná-lo agora.

Suas 30 moedas de prata são aquelas coisas que te fazem parar de seguir e obedecer a Jesus. Ele não é o suficiente para você. Você pensa que é necessário Jesus mais alguma coisa para te satisfazer. E esse é o seu preço e você é tão traidor quanto Judas. Se você tem uma condição para seguir Jesus, examine seu coração e peça para o Espírito te fazer entender o que Jesus realmente fez, faz e fará.

E aí entra a segunda razão pela qual devemos olhar a vida de Judas e nos comparar para ver se não estamos o traindo como Judas fez. Se você está seguindo Jesus como um meio de conseguir algo, de conquistar algo, você está agindo como Judas.

Entenda que você não é merecedor da graça e mesmo assim a obtém somente por crer no sacrifício remidor do Cristo. Jesus não te deve nada. Não adianta ficar olhando a vida dos outros e medindo as bençãos que aquela pessoas recebeu e tentar avisar Jesus de que ela não merecia, mas você sim.

Judas não entendeu que Jesus somente era o que ele mais precisava. Que mais nada o poderia satisfazer. Que mais nada o deixaria completo. Que mais nada o salvaria. Que mais nada o deixaria rico da riqueza que nenhuma traça nesse mundo poderia acabar.

Jesus nos deu o que mais ninguém poderia nos dar, um relacionamento com Deus. E, seja durante a celebração dos sacramentos da ceia do Senhor, do batismo, ou nesta época da Páscoa, devemos olhar para a Cruz e ficarmos maravilhados com o que já temos. 

Érica Veríssimo - professora da Our Kingdom School, mãe e esposa. Além disso é especialista em Teologia e professora de Bíblia.