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Ansiedade infantil: O Pequeno Mundo de Grandes Preocupações

Ansiedade infantil: O Pequeno Mundo de Grandes Preocupações

Em um mundo onde tudo parece se mover rápido demais, até os menores corações podem carregar grandes preocupações. Durante o jantar, sua criança pode não conseguir explicar por que está tão inquieta. Você pergunta como foi o dia na escola, e a resposta vem com um simples "tudo bem", enquanto os dentinhos roem as unhas e as perninhas inquietas balançam pra lá e pra cá, como se estivessem dançando por conta própria. Mas, por trás desses gestos quase automáticos, pode haver um universo de emoções tentando encontrar uma saída.

A ansiedade infantil é sutil. Ela pode se esconder em comportamentos que, à primeira vista, parecem apenas parte da infância. Roer unhas, ter medo do escuro ou mesmo molhar a cama à noite (enurese noturna) são alguns sinais de que a mente da criança está lidando com algo que ela ainda não consegue nomear. Como pais, nosso desafio é entender o que está por trás dessas pequenas manifestações e, com paciência e amor, ajudar nossos filhos a atravessar essa fase com segurança.

O psicólogo Jonathan Haidt, em seu livro A Geração Ansiosa, explica como as crianças de hoje estão crescendo em um ambiente saturado de estímulos, desde telas até pressões sociais. Isso aumenta a sensação de estarem constantemente "ligadas" (hiper-conectadas), mesmo sem entender por quê. Elas sentem o peso da expectativa e da comparação desde cedo, e essas pressões, combinadas com o desenvolvimento emocional em formação, criam um terreno fértil para o surgimento da ansiedade infantil e outros transtornos mentais. Durante e após a pandemia, estudos mostraram um aumento significativo nos níveis de ansiedade infantil, com as crianças sendo expostas a rotinas desestruturadas, incertezas e medo em uma fase crítica do desenvolvimento.

É comum, por exemplo, que crianças ansiosas tenham dificuldades para dormir sozinhas. Na quietude da noite, quando o mundo parece mais silencioso, as preocupações crescem. As sombras no quarto tornam-se mais assustadoras, e os barulhos, mais intensos. "Posso dormir com você?" se torna um pedido recorrente. O medo do escuro ou de monstros imaginários pode, nesses momentos, revelar uma ansiedade mais profunda — um coraçãozinho que, mesmo sem entender completamente, se preocupa com o dia seguinte, com a escola, os amigos ou até com o que viu no noticiário.

Pesquisas mostram que o estresse contínuo na infância pode impactar o desenvolvimento emocional e cognitivo, interferindo em habilidades essenciais, como concentração e resiliência. Altos níveis de estresse podem prejudicar o aprendizado e aumentar o risco de desenvolver transtornos de ansiedade ao longo da vida. Por isso, é importante observar sinais que indiquem que seu filho está enfrentando mais do que os desafios normais da infância.

Além desses sinais emocionais e comportamentais, a ansiedade infantil pode se manifestar fisicamente. Dores de cabeça, dor de estômago e fadiga são respostas do corpo ao estresse emocional. Esses sintomas aparecem frequentemente na hora de ir para a escola ou durante o trajeto, quando a criança pode se queixar de mal-estar, sentir o corpo pesado ou até demonstrar resistência em sair de casa. Quando esses sinais persistem, a ansiedade começa a interferir no bem-estar da criança.

Como Podemos Ajudar?

O primeiro passo é estar atento aos sinais, por mais sutis que pareçam. Comportamentos como roer unhas, evitar interações sociais ou mostrar resistência para ir à escola podem parecer passageiros, mas, quando persistem, é fundamental criar um ambiente de acolhimento e segurança. Aqui estão algumas dicas práticas para ajudar seu filho:

  1. Estabeleça uma rotina previsível e tranquila: As crianças precisam de estrutura para se sentirem seguras. Definir horários regulares para dormir e acordar, limitar o tempo de tela, especialmente antes de dormir, e incluir momentos de brincadeiras ao ar livre ajudam a reduzir os níveis de estresse. Brincadeiras sensoriais também podem ser úteis para aliviar a tensão emocional.

  2. Momentos de conversa em família: Crie um espaço onde a escuta seja ativa e livre de julgamentos. Uma simples pergunta como "O que foi a melhor parte do seu dia?" pode abrir espaço para conversas mais profundas. Incentive seus filhos a nomear seus sentimentos — isso os ajuda a processar as emoções.

  3. Observe e reforce o lado positivo: Quando seu filho conseguir lidar com uma situação de ansiedade, por menor que pareça, elogie-o. Esse reforço positivo aumenta a confiança e ensina estratégias para superar desafios futuros.

  4. Busque ajuda profissional quando necessário: Se a criança evita atividades que antes gostava, demonstra medo constante, choro sem motivo aparente, tem alterações no apetite ou sono, ou apresenta os sintomas físicos descritos, e se esses sinais interferem na rotina diária por um longo período, pode ser necessário buscar o apoio de um psicólogo infantil. A orientação profissional pode ajudar a criança a entender e processar suas emoções de maneira saudável.

  5. Cuide da saúde emocional da família: Muitas vezes, a ansiedade infantil reflete o ambiente familiar. Portanto, os pais também podem se beneficiar de ajuda especializada. A orientação para pais é uma excelente alternativa para aprender novas estratégias e ajustar a dinâmica familiar, promovendo um ambiente emocionalmente saudável para todos. Cuidar da própria saúde mental permite que os pais ajudem seus filhos a enfrentar desafios emocionais com mais segurança e equilíbrio.

Ensinando Nossos Filhos a Confiar em Deus

Como cristãos, temos uma oportunidade especial de ensinar nossos filhos a confiar suas preocupações ao Senhor. Filipenses 4:6-7 nos lembra que não precisamos andar ansiosos, mas que podemos apresentar todas as nossas preocupações a Deus. Encoraje seu filho a orar sobre seus medos, a conversar com Deus sobre as preocupações que ele ainda não sabe nomear. Momentos simples de devoção em família, como ler uma história bíblica antes de dormir ou fazer uma oração juntos, podem trazer paz e conforto à mente da criança.

Quando acolhemos nossos filhos e oferecemos ferramentas para que lidem com a ansiedade, não estamos apenas ajudando-os a enfrentar os desafios da infância, mas também plantando sementes de fé — frutos com peso de eternidade. A confiança em Deus pode ser o alicerce que, mesmo nas noites mais difíceis, traz paz ao coração de uma criança.

Se você percebe que seu filho está mostrando sinais de ansiedade, não espere que o tempo resolva por conta própria. Este é o momento de agir com amor, acolhimento e orientação. Busque compreender o que se passa no coração dele e ofereça apoio emocional e espiritual. E se precisar de ajuda, não hesite em procurar orientação especializada. Ao cuidar da saúde emocional do seu filho, você estará construindo uma base firme para o presente e para o futuro — uma vida alicerçada na paz de Deus.


Mirella Ferraz - cristã, psicóloga, casada com Renato Ferraz, mãe de 3 meninos: Estevão, Benjamin e João. Apaixonada por livros, café e uma boa prosa, como toda boa mineira.

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